segunda-feira, 13 de maio de 2013

A farsa de Inês (Teotónio) Pereira

Um artigo de Inês Teotonio Pereira no jornal i tem sido vergastado na rede, e não se pode dizer que o não mereça. Merece-o sobretudo pela inoportunidade e pelo maniqueísmo.
Em tempos melhores do que este, até poderíamos defender a autora na parte que diz respeito à educação dos seus filhos. Ela é acusada de não os saber educar e essa acusação é injusta. A maioria dos que a acusam (apegando-se à irrelevante fábula que ela escreveu em vez de à moral da história nela implícita) não pode reivindicar para si mesma um trabalho melhor do que o dela. Se o pudesse, o mundo adolescente não era a barbárie fútil e assustadora que sabemos ser esmagadoramente.
Os problemas da farsa de Inês Pereira são outros, os que referi.
A inoportunidade. Por mais críticas que haja a fazer ao socialismo (ou melhor, ao PS, não temos de partilhar do preconceito da senhora quanto à ideologia), parece um anacronismo ou uma desfaçatez insistir no exercício depois de dois anos de despautério PSD/CDS. No mínimo, a incompetência e a vilania de Passos e Portas deveriam moderar-lhe o discurso.
O maniqueísmo. No universo a preto e branco da senhora Teotónio Pereira, o adolescente típico que ela no fundo descreve é “socialista” porque ela odeia o socialismo. Mas na verdade, não só são também assim “socialistas” os adolescentes PP e PSD, como o têm igualmente sido os políticos desses dois partidos.
O problema português foi (e é) comportamental (e transversal) e a senhora quer fazer-nos crer que é ideológico. Que os defeitos não são de carácter mas de filiação partidária. Que não foram a corrupção, o nepotismo, a irresponsabilidade, o oportunismo e outros vícios da índole lusa a trazer-nos aqui, mas as convicções políticas de alguns. Que se a ideia de Passos de criminalizar os governantes nocivos fosse avante se deveriam prender todos os que professam o socialismo, não os que cometeram crimes ou esbanjaram dinheiro. No fundo, Inês Teotónio Pereira quer que a esquerda seja, não uma posição política, mas um estigma social, talvez o cadastro policial de uma agremiação criminosa.
Na sua concepção maniqueísta do mundo, Inês Teotónio Pereira não se coíbe de implicitamente defender que do outro lado da barricada, do seu lado, as pessoas são justas por natureza, e se têm dinheiro é porque é delas por direito. O seu penúltimo parágrafo é uma defesa pungente desta ideia. Reparem que não há lugar no argumentário da senhora para questionar quem tem o dinheiro. Os socialistas são quem arruína as nações. Os ricos, se têm o que têm, foi porque, justa e impolutamente, o mereceram. É feio invejá-los. Proibido questioná-los. E isso que ela diz aos seus filhos e ao país.

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